terça-feira, 19 de janeiro de 2016

cromices #107: Os filhos da mãe e as filhas do pai.



Nunca tive tantos trabalhos temporários como quando andei a estudar na faculdade, alguns através das típicas agências.

Nem sempre a coisa corria bem. Aliás, a coisa correu mesmo para o torto, quando através dessa mesma agência dei por mim num biscate para uma empresa de bebidas alcoólicas que precisava de mão de obra para o preenchimento de questionários sobre gestão de stocks junto dos seus clientes.

Bastou-me um dia para mandar esse cliente às urtigas. Não fui a única. É como no baseball - "3 strikes and you're out!"

Strike nº1 - Deixou-me plantada à espera, para além do aceitável. Profissionalmente, sempre fui exemplar na minha assiduidade e pontualidade. Não espero nada menos que o mesmo tratamento, independentemente de ser Fulano ou Sicrana e não faço por esconder o meu desagrado.

Strike nº2 - O primeiro membro da equipa a desistir foi uma rapariga de semblante frágil, completamente amedrontada e desagradada com o facto do seu itinerário incluir um spot em Santos de ar muito duvidoso e rasca. Fulaninho, com quem eu já estava pelos cabelos, por sua vez comenta o seu desagrado pela desistência. Não resisti a comentar que nem todas as mulheres se sentem bem em bares de alterne.

Strike nº3 -  Depois de ter sido confundida com uma fiscal das Finanças, o que até achei imensa piada, calhou-me na rifa o dono de um restaurante finório cheio de falinhas mansas e insinuações.

Quando saí disse para mim mesma "Bardamerda! Tostões a recibos verdes não pagam para aturar disto!". Liguei para a agência e dei por terminada a minha colaboração com aquele cliente.


Nesse dia cheguei a casa piursa. Quando o meu pai me perguntou sobre o que tinha corrido mal durante o dia, contei-lhe.
Acontece que o meu pai conhecia tanto o restaurante como o fulano armado em conquistador. "Tenho que lhe dar uma palavrinha."

É que às vezes os filhos da mãe precisam de ser lembrados que, mesmo as filhas dos outros têm pai.

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