quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

vida de cão #43: Maldita testosterona!


Confesso que antes de começar este texto tive que ir googlar sobre testosterona. A minha dúvida era sobre os seus benefícios seriam ou não maiores do que as chatices provocadas por esta hormona.

A testosterona é uma hormona que se encontra em todos os animais, sendo produzida em muito maior escala pelos machos, sendo a principal hormona sexual destes e essencial para o desenvolvimento dos órgãos reprodutores masculinos e o desenvolvimento de características diferenciais dos machos da espécie como maior musculatura, maior pilosidade e massa óssea.

Quando falo de chatices em relação a esta hormona refiro-me aos seus efeitos comportamentais. Esta tem um grande efeito no comportamento social das espécies, (humanos incluídos), e manifesta-se através de impulsividade, agressão, competitividade, dominância, raiva.

Sinceramente não me sinto grande defensora da testosterona. Dou por mim a imaginar que, se esta hormona não existisse estaria encontrada a solução para a paz mundial.

Em relação aos cães, estes comportar-se-iam como "puppies" a vida toda e muitos dos problemas que me apoquentam estariam resolvidos. O início da puberdade é também, no caso dos "filhos caninos", o fim da paz e do sossego para os "pais".
É que, independentemente da raça e do porte, são todos tão queridos, fofinhos e meiguinhos quando são pequeninos, e depois começa a idade da parvalheira e com esta tornam-se inevitáveis os episódios em que a relação com os outros deixa de ser pautada só pelo desejo de brincar, mas também pela necessidade de ser armarem em alfas da matilha, de marcar território, de provar quem é que tem o pipi maior, quem é que é muito macho. Lá está, tal e qual os humanos.
Uma maçada só vos digo, uma maçada!

Contou-me o marido, ontem à noite, quando chegou do último passeio com o Kiko, que foram surpreendidos pela chegada de outro cão quando estavam no relvado. Conheço-o bem, é um podengo médio cerdoso que também se chama Kiko, que por ser daqueles cães que andam à solta por aí já me obrigou a uma das minhas figuras tristes.
Naquele momento estava com o dono.
Cheiraram-se e deram início a um ritual em que corriam pelo relvado e pela rua, parando para marcar território. Um fazia chichi num ponto, o outro fazia por cima, o primeiro voltava atrás para remarcar território e andaram nisto uma vida.
O dono do outro Kiko soltou algo como "O seu é cão? Engraçado! Parecem estar-se a dar bem e o meu não se costuma dar bem com cães!" - (E deixa o animal andar à solta sem supervisão! Até me benzo, senhores! Começo a perceber porque há por aqui quem vá passear o cão de cajado de mão!). O meu marido explicou-lhe que aquilo não era, de forma alguma, "darem-se bem", que estavam a tentar estabelecer uma hierarquia entre eles, a perceber qual dos dois era o dominante.

Como o ritual do chichi não os satisfez, houve um momento em que desataram a rosnar e a mostrar as dentolas. Teria havido bulha na certa não decidisse o marido achar por bem dar por concluída a experiência social, meter-se no meio e agarrar no Kiko.
Pelos vistos o nosso gostou tanto da experiência que depois andava a abanar o rabo, feliz da vida, e fez um nº 2 digno de uma menção honrosa no Guiness. Adolescentes!

Embora o nosso tenha metade do tamanho do outro, é bastante destemido com alguns cães, (ainda não percebi como é que ele os escolhe). Parece que houve um momento em que se levantou nas patas traseiras e inchou o peito para conseguir olhar o outro Kiko ao mesmo nível, olhos nos olhos.

Começamos a acreditar que o Kiko sabe, na maioria das vezes, distinguir os cães que estão "em níveis semelhantes" mesmo que sejam maiores, e aqueles que são "areia demais para a sua camioneta".
Com estes últimos ele, em menos de nada, submete-se. Às vezes ladra a seguir, mas não é um ladrar agressivo, parece soar a algo como "Pronto, és tu que mandas! És o maior! Agora podemos ir brincar?". Só se o outro cão não alinhar na brincadeira é que o tom do Kiko muda. Presumo que seja para lhe chamar uma carrada de nomes.
Mas, há outras situações em que o Kiko, para além de se submeter, encolhe-se, retrai-se e recua com medo. Deve pressentir que existe ali uma verdadeira situação de perigo.
Infelizmente, a última situação destas aconteceu com aquele que foi o seu primeiro grande amigo, antigo colega de escola, que foi o primeiro cão com que o Kiko socializou e que tinha uma paciência de santo para o nosso miúdo.
Entre ambos existia uma amizade, um brilho nos olhos quando se viam, uma alegria desmedida que dava gosto ver!

Depois veio a mudança da idade e a maldita testosterona.
Fiquei tão triste quando o marido me contou que, na última vez que se encontraram, o Kiko correu para o amigo com a alegria do costume. Este não brincou, simplesmente tolerou-o, e passado uns instantes começou a soprar pelo nariz de uma forma muito audível. O Kiko esparramou-se no chão, em posição de submissão e recuou.

No outro dia cruzámo-nos com esses nossos amigos, e há medida que boxer e dono avançavam, não consegui esconder o medo e recuava com o Kiko. Trocámos um breve dedo de conversa e seguimos o nosso caminho, especialmente depois de ambos repararmos que o Kiko estava a tremer de medo só de estar na presença do outro cão. E como tremia o meu menino!

Tão triste! Maldita testosterona!







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