sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Vida de cão: Transformar as rotinas em brincadeiras



Os cães são, em muitos aspectos, tal e qual as crianças humanas. Para um pai ou uma mãe não será novidade nenhuma afirmar que as rotinas se tornam muito mais fáceis, se forem transformadas em brincadeiras, ou pelo menos se convencermos os gaiatos que assim é.

Tenho notado que com o Kiko o mesmo truque se aplica.

Após cada ida à rua há um ritual, indispensável, de higiene. Este nunca é descurado porque lhe é permitido andar à vontade por todas as divisões, em cima do sofá, da cama, etc. Esta também é a sua casa e queremos que ele tenha deste espaço a fruição plena, daí a importância da limpeza.

Embora não escape de uma ida à banheira depois do último passeio, durante o resto do dia e dependendo do estado em que ele chegue a casa basta limpá-lo com uma daquelas toalhitas húmidas para bébé.
A falta de colaboração do Kiko começou-me a maçar, afinal trata-se de uma rotina diária, repetida várias vezes. Até que comecei a engendrar uma forma de tornar aquilo agradável.

A solução foi simples: ele é tão, mas tão guloso, que bastou adicionar comida ao ritual. Coloco uns quantos pedaços de ração no chão, (se for na taça já não tem o mesmo efeito, sabe-se lá porquê), e vou limpando-o. Resulta tão bem que mal me vê com uma toalhita na mão o sacaninha abre um sorriso de orelha a orelha, e até já levanta as patas para serem limpas.


coisas da casa: Arrendamento vs Aquisição


Em qualquer tema existem opiniões, gostos e perspectivas diferentes.

No que toca ao tema que vos trago hoje - arrendamento vs aquisição, confesso que sempre fui uma ferrenha apologista da aquisição de casa própria.

O principal motivo da minha preferência é financeiro.
Há quem defenda que pagar uma mensalidade ao banco ou uma renda a um senhorio vá dar ao mesmo, afinal são ambas obrigações pecuniárias que se repetem todos os meses. Que em ambos os casos, para o mau pagador o resultado será o mesmo: o senhorio ou a entidade bancária retomam a casa e ponto final.
Para mim, toda e qualquer semelhança finda aí, porque há um mundo de diferenças, com claras vantagens, na minha opinião, para a aquisição.

É bem verdade que, para nós, pessoas comuns que não têm outra hipótese se não recorrer a um crédito habitação, veremos acrescentados ao valor de venda do imóvel juros. O que é normal e esperado, pois as instituições bancárias não se dedicam à caridade e, como qualquer outra empresa, os seus serviços têm de ser pagos. Ninguém dá nada a ninguém, e mesmo quando vamos comprar pão, o padeiro não nos cobra somente o que gastou em matérias-primas.

Mesmo assim, eu prefiro olhar para o compromisso que se tem para com o banco como um investimento. É que ao fim de 15, 20, 30, 40 anos aquele imóvel será nosso. Depois de liquidado o empréstimo, as únicas despesas desse género serão o seguro e o IMI, enquanto que um arrendatário pagará renda por toda a vida, nunca a vendo diminuir, por algo que nunca será seu.
Inclusive, num cenário como o actual em que as taxas de juro se encontram incrivelmente baixas, os valores cobrados no mercado de arrendamento chegam a ser muito superiores às mensalidades pagas por quem comprou casa. Devido aos contornos da crise financeira, os bancos já não cedem empréstimos com tanta facilidade, forçando muitas pessoas a enveredar pelo mercado de arrendamento. Aproveitando a situação, muitos senhorios não resistem a entrar no jogo da especulação imobiliária, elevando as rendas significativamente.

Uma das claras vantagens de se possuir um imóvel é também do foro financeiro. Uma das benesses de ser proprietário é poder vender o imóvel e obter assim, pelo menos, o retorno de parte do investimento. Há casos em que os proprietários são tão bem sucedidos no mercado imobiliário que conseguem o retorno total do investimento, ou ainda facturar uma margem de lucro, o que significa que usufruíram de um imóvel por X anos a custo reduzido, a custo zero, ou é como se lhes pagassem pelo usufruto passado. (Aqui também entramos na esfera da especulação, da ganância e do exagero, mas isso agora são outros quinhentos, e um tema para outro dia.)

Podem ainda entrar no mercado de arrendamento.

A posse de um imóvel pode ser também importante para quem tiver descendentes. No futuro terão uma herança que lhes providenciará habitação própria garantida, ou uma fonte de rendimento.
Num contexto de arrendamento nada disto é possível, e por isso, para mim, dinheiro em rendas, é quase dinheiro deitado à rua.

Outro benefício que me ocorre em relação à posse, é que a cor das paredes ou ter animais de estimação são duas das muitas decisões que podemos tomar sem a necessidade do aval de terceiros, como acontece quando existem senhorios ao barulho.

A maior vantagem do arrendamento reside na liberdade, e até certa medida, na ausência de determinadas responsabilidades e trabalhos.
Se alguém tiver um espírito nómada, ou uma carreira profissional que o obrigue a andar por aí feito saltimbanco, o aluguer será sempre a melhor opção. Uma casa própria não deixa de ser uma âncora, e sem esta alguém pode dar-se ao luxo, se existir vontade, de mudar de cidade ou país quantas vezes lhe apetecer.
Habitação própria também vem com "responsabilidades e trabalhos", sendo estes os cuidados de manutenção, obras, renovações várias e tudo o que for necessário fazer para manter a saúde de algo que, tal como nós, também envelhece e descai. Um proprietário sabe que todo este peso tem lugar às suas costas, um arrendatário sabe que na maioria das situações a responsabilidade pertence ao senhorio.
Um arrendatário pode mudar-se, aos primeiros sinais de "trabalhos", para uma casa nova e continuar a fazê-lo para que nunca na vida tenha que passar pelo suplicio de obras, por exemplo. Ou ir, através de tentativa e erro, experimentando vários modelos de casas até encontrar aquele que mais lhe agrada, com relativa facilidade e desapego.




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Desejo de ano novo #7: Cuidar dos Cuidadores, Parte 1.



Se há realmente um ponto comum que nos une é que, todos nós, sem excepção possível, necessitamos de cuidados. Seja quando nascemos, durante a infância, na doença e na velhice. Alguns, infelizmente, têm deles necessidade por toda a vida, seja por incapacidade física, psicológica ou intelectual.

Que seria de qualquer um de nós se não existisse quem abraçasse esse papel de cuidador e nos providenciasse as atenções necessárias?!

Da mesma forma, haverá pelo menos um contexto na vida, em que qualquer um de nós será chamado a vestir o papel de cuidador, seja para os filhos, para os pais, para a cara-metade, para outra qualquer pessoa ou até animal...

É raro que o ser humano, (não interessa o contexto geográfico, histórico ou qualquer outro), envergue outro papel que seja tão abrangente, necessário e fulcral como é o de cuidador.
Por isso, é no mínimo bizarro, estúpido e contraproducente que os prestadores de cuidados sejam tão ignorados e forçados a viver uma realidade tão estéril em apoio, compreensão e empatia. Não só por ser uma realidade que inevitavelmente baterá a todas as portas, mas também por ser das funções mais exigentes e fatigantes emocional e fisicamente.








100 motivos para não ter filhos #3: Liberdade reprodutiva vs condições




Desculpem-me a franqueza, mas tenho que desabafar o seguinte: não entendo como há gente neste planeta que teima em trazer crianças ao mundo para viverem em condições que, muitos de nós não consideram aceitáveis nem para os animais que são criados para alimento.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Pessoas de quem gosto: Bem haja a população de Peniche...


... que, ao contrário de matar um golfinho bébé como aconteceu na Argentina, soube proteger a cria de golfinho que havia dado à costa, até chegar a equipa de resgate.
Mais aqui.

Bem hajam pela vossa decência, humanidade e compaixão! Pelo belo exemplo de como fazer (o) bem que dão ao mundo, especialmente quando, há pouco tempo, tivemos a notícia chegada da Argentina, do golfinho que morreu desidratado para que turistas tirassem selfies. Sabe bem quando nem todas as pessoas nos fazem sentir vergonha da nossa espécie!




coisas que me irritam: Poluição sonora


Os miúdos Fukushima são de tal forma barulhentos que conseguem, em meia hora, dar-me algo que nunca a discografia dos Sepultura conseguiu: uma dor de cabeça.

Ontem ao final da tarde, um deles arma uma birra no meio da rua. São miúdos que não se expressam de forma comum, têm o volume sempre no máximo e quando choram, não choram: inspiram uma lufada de ar e berram, gritam, esperneiam. Senhores, como berram! E como dura a berraria, naquele volume e estridência que não há parede, nem janela fechada que sirva de barreira, nem som de fundo em casa que abafe!

Que desatino, que violência, que desconforto! Que dor de cabeça!

Adoraria retirar prazer destes ruídos, ou pelo menos ser indiferente, mas não consigo. Porque se há coisa que mexe comigo são barulhos, alguns capazes de me deixar desnorteada como um veado encadeado por faróis.

Por exemplo, fico a ranger os dentes com o toc toc toc dos saltos altos, arrastar de móveis, berros, televisões com o volume demasiado alto, ruído branco dos aparelhos eléctricos, espaços cheios de gente a fazer muito barulho, alguns dos sons produzidos por motas, as vozes de algumas pessoas, aspiradores, pessoas que insistem em ouvir todos os toques do telemóvel em público, ruído de qualquer ferramenta ou maquinaria, aqueles que falam de forma gritada ao telefone e basicamente tudo o que interfira com o sono e o descanso na hora sagrada reservada para tal.

A grande excepção é a música. Gosto de ouvir música e não me incomoda notar que outros o fazem, desde que em horários apropriados.

Esta minha sensibilidade auditiva faz com que tenha cuidado com o meu próprio ruído, para não incomodar terceiros. Uma atitude especialmente importante quando se vive num apartamento.
Embora goste de ouvir música, só a ouço alta em determinados horários e só pontualmente durante longos períodos. Salvo nos momentos em que já ripostei a barulho da vizinhança com alguns temas da minha eleição.
Tenho atenção aos horários em que ligo máquinas e utensílios como o aspirador, máquina de lavar ou secar, ou até a varinha mágica. O meu bom senso dita-me que não vou aspirar às 9h da manhã nem passar uma sopa às 23h.
Inclusive para os banhos tento seguir uma regra de "bons horários": banhos demasiado tardios são a excepção, não a regra.
Tento não fazer muito barulho nas áreas comuns do prédio, pois faz eco, o som propaga-se e é bastante audível dentro das habitações.
A regra de serem proibidas obras ao Domingo é sagrada, e só é quebrada em caso de emergência.
"Trata os outros como queres que te tratem" - é o lema de ordem.

Assim sendo, embora até seja uma pessoa tolerante, não me coíbo de agir quando acho que atingi o meu limite.
Ao longo de 13 anos nesta casa ainda só tive que intervir uma meia dúzia de vezes, e só metade das vezes se tratava de ruído de vizinhança. Acho que é uma média bestial e demonstra que estou rodeada de bons vizinhos.
Quando acho que devo intervir é da minha natureza ser uma pessoa bastante pragmática e directa. Não sou daquelas pessoas que não enfrenta nem age, mas vai guardando rancor. Antes que me dê um amok, prefiro abordar as pessoas, informá-las, dialogar e esperar que isso seja o suficiente para garantir a resolução da situação. Em todas as situações este modelo tem-me servido bem, até porque na maioria das vezes acredito que as pessoas não têm mesmo noção da intensidade do barulho que produzem e de como este pode ser audível e incomodativo para terceiros.

Já pedi no café próximo da minha casa que falassem com o padeiro, e em meu nome lhe pedissem que baixasse o volume do rádio quando viesse entregar o pão às 5h da manhã, pois este acordava-me e estragava-me o sono.
Um dia cheguei a abordar os vizinhos de cima pelo barulho constante do arrastar de móveis, do aspirador a trabalhar o dia todo, todos os dias, desde manhã cedo, do poc poc poc infernal que é o barulho de bolas a bater no chão, de gavetas e portas de armário a bater no quarto a horas tardias, que a qualidade do nosso tempo passado em casa estava a ser seriamente comprometida.  Assim como já falei com outro vizinho sobre se seria possível, logo de manhãzinha cedo, terem mais atenção ao retirar o carro da garagem, se podiam evitar fechar a porta com tanta brutalidade e dispensar a música techno aos berros, pelo menos até se afastarem da janela do meu quarto. Com bons modos, foi o que bastou. E estou-lhes grata por isso.

Para quem não tem a mesma sorte o meu conselho é:
Conheçam a legislação sobre ruído. Sejam um bom exemplo: é demasiado hipócrita exigir de outros o que nós não cumprimos. Com bons modos e uma boa atitude, abordem as pessoas e informem-nas da situação. Se não resultar, repitam. Da terceira vez em diante, chamem a Polícia para que sejam as autoridades a chamar-lhes a atenção, e para que as ocorrências fiquem registadas, servindo de prova caso a solução resida na via judicial.






segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

cromices #116: As galinhas, senhores, as galinhas!



O meu avô João, embora já não trate dessas coisas, sempre teve um enorme dom para a flora. O meu avô Francisco tinha igual dom, mas para a fauna.

Se, em grande parte, a explicação para o que somos estiver na genética, talvez o meu amor pelas coisas verdes e os animais seja uma herança. Talvez por isso dê por mim a fantasiar, com mais frequência do que deveria, numa vida com prados, jardins e bichos.

A casa da minha ama tinha um grande quintal. Nele existiam oliveiras que davam para trepar, um pomar com árvores de citrinos onde também cresciam azedas, horta, um cão, e um enorme galinheiro.
Numa época em que a televisão não era grande entretém, nem existiam consolas nem nada que se parecesse, quando não tinha a companhia de algum miúdo da vizinhança com quem fazer tortas de lama ou andar de trotinete, passava o tempo em frente ao galinheiro, a cantar e a dançar para as galinhas.

Delirava quando conseguia prender-lhes a atenção e se punham a olhar para mim, naquele menear de cabeça típico.

A minha avó Maria contava como, todos os dias, à mesma hora, o seu bando de galinhas saía do quintal e subia a rua para esperarem o meu avô e acompanhá-lo até casa.
Essa história alimentou em mim a crença que as galinhas não são estúpidas como a maioria das pessoas acredita.

Gosto imenso de galinhas e mal posso esperar para um dia viver num espaço onde finalmente as possa ter como animais de estimação.

A minha escolha irá recair nas raças autóctones portuguesas como a Pedrês, a Preta Lusitânica ou a Amarela do Minho. É necessário sensibilizar os criadores para as raças portuguesas, em especial quando a Pedrês está em risco de extinção, falando-se da existência de apenas 2000 fêmeas de raça pura.

Adoraria criá-las desde o primeiro momento de vida, treiná-las como se faz com os cães, dar-lhes a capoeira mais luxuosa e confortável de sempre, baptizá-las com nomes como Mari Carmen, Esmeralda, Ephigénia, Eugénia...
















Do registo onírico #2


Um sonho em versão "filme de animação":

Ponto de vista lá em cima, como se a câmara apontasse para a coroa da cabeça da personagem. Ela, uma mulher de cabelos longos vermelhos, dança rodopiando. Do tal ponto de vista vejo os cabelos e os braços que se movem de uma diferente perspectiva. Parece uma mandala em movimento.
Movimento contínuo: o ponto de vista, nunca deixando de observar a personagem, move-se até a vermos olhos nos olhos. Ela vai rejuvenescendo.
Quando pára de rodopiar é uma criança ruiva, ainda de cabelos longos. Reparo que estamos no alpendre de uma casa, num dia bonito de céu limpo. A miúda corre para os braços da mãe.
Sempre movimento contínuo: até chegar aos braços da mãe a miúda vai sempre rejuvenescendo. Quando alcança o seu colo está naquela idade em que mal se dão os primeiros passos. A mãe senta-se numa cadeira de baloiço. O bébé vai diminuindo de tamanho. Num passe de magia não há bébé: voltou para dentro da barriga da mãe. A barriga diminui, assim como a própria mãe. Recolhe-se até não existir nada mais que um ponto negro no plano. Uma pequena e luminosa explosão dá origem a uma ave. Levanta vôo e sai do alpendre para se juntar a um bando de cegonhas no céu límpido.

Curta pausa...

Plano escuro. Não há nada.
Existem duas entidades sobre uma cama. Não se vêem, mas estão lá. Começa por aparecer somente o coração de ambas. Máquinas imóveis.
A vontade é tudo: ambos os corações começam a bater. O sangue que é bombeado é feito de luz.
As veias de dois braços são irrigadas dessa luminescência e tornam-se visíveis no breu. Dão as mãos e entrelaçam os dedos.
Pouco a pouco nota-se o contorno de dois corpos, desenhados a luz, num cada vez mais iluminado e completo sistema circulatório. Beijam-se, abraçam-se, fundem-se.
As mãos sempre entrelaçadas, os braços esticam-se e apontam para cima. Da combinação dos dois indicadores esticados sai um raio de luz em direcção ao cosmos. O céu nocturno é vasto e fértil em pontos iridescentes.


sábado, 20 de fevereiro de 2016

coisas do armário: Le Smoking



Semanas antes do meu 18º aniversário já tinha uma ideia exacta do que queria vestir na minha festa: camisa preta, (encontrei uma na Mango que foi, durante anos, a minha favorita), calça preta e gravata branca (de seda, que comprei na Tie Rack). Sapatos e casaco a condizer. Acho que a moda serve sobretudo como diversão, e quis brincar com um look meio andrógino, meio gangster. Olhos dramáticos à anos 60 e uma cor mais viva nos lábios.

Foi a minha primeira gravata e gostei tanto que passei a fazer colecção, e até a roubar algumas do armário do meu pai. Durante muitos anos, sempre que vestia um fato, de calças ou saia, a gravata, usualmente negra, era-me imprescindível.

Um dia, também há muitos anos, apareceu no correio, publicidade a um curso de moda e costura da Ediclube. Na altura haviam imensas colecções de livros e enciclopédias desta editora. O panfleto era uma colagem de imagens coloridas de criações que tinham marcado a história da moda como o conjunto Chanel que Jackie Kennedy tornou famoso. Mas, o que me prendeu o olhar, (e por isso me lembro tão bem), foi o smoking de Yves Saint Laurent.
Imediatamente achei que, em raras ocasiões tinha visto uma mulher tão bonita e bem trajada: elegância, sofisticação e simplicidade. Simultaneamente, era o look mais sensual de sempre, onde tal qualidade residia não na exibição de pele, mas na atitude provocadora e confiante da mulher que enverga uma armadura masculina em saltos altos. Sublime esta materialização do conceito de que a sensualidade vem de dentro.

Conhecer um pouco da história do Le Smoking de Yves Saint Laurent só me faz gostar ainda mais deste.
O que é hoje considerada uma peça icónica do design de moda foi, na época da sua criação, em 1966, algo bastante desafiador. Era mal visto as mulheres andarem de calças, e em alguns e restaurantes e hóteis as senhoras nem sequer eram admitidas nestes preparos.
Tal aconteceu à socialite norte-americana Nan Kempner. A resposta da senhora foi brilhante e esteve à altura: despiu as calças e usou o casaco como microvestido.

Uma jovem e bela Catherine Deneuve foi a primeira a envergar o conjunto em 1967.


 
 
 
 
Foi, no entanto, a foto do Le Smoking pela objectiva de Helmut Newton para a edição de 1975 da Vogue que trouxe à interpretação de YSL da black tie, o estatuto de ícone.
 
 


Ao longo de 30 anos o Le Smoking foi-se adaptando aos tempos, reinventando-se, mas sempre usando o mesmo tecido.












sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

cromices #115: O cusco


A família Fukushima é de tal forma sui generis que me dão material e inspiração para horas de escrita, se assim o decidisse.

Ontem à noite, durante um cigarro, reparei, (era de tal forma óbvio que era impossível não reparar), na figurinha do pai a espreitar pelos buracos dos estores.

Não, não tenho visão raio-x nem outro qualquer superpoder. É que o homenzinho estava a fazê-lo com os estores fechados apenas dois terços e a luz acesa, tratando-se de um caso de "gato escondido" com a barriga de fora.

Efectivamente consegui ignorar a cena peculiar durante o cigarro, mas ficou-me engasgada a vontade de lhe dizer algo como "Oh homem, já que insiste em espiar a vizinhança, faça a coisa como deve ser, caramba!"

coisas de pensar: Será a redenção possível?


Diz que a redenção é o acto de libertação de todos os sacrifícios, males e grilhões. Dizem também os crentes na reencarnação que é exactamente este o seu propósito. Que cada lição aprendida é mais um degrau conquistado na "stairway to heaven".

Falando em degraus, há uma escala imensa de gradientes e meios tons entre o Bem e o Mal. Acho que o comportamento da maioria das pessoas, o meu incluído, insere-se mais ou menos a meio da tal escala, com cada pé metido num tom, oscilando entre luz e sombra conforme a qualidade das acções e pensamentos.

Salva-nos a capacidade latente que todos trazemos de, pelo menos uma vez na vida, fazermos algo que nos dá direito a avançar umas quantas casas neste jogo.

Talvez seja por isso que as acções produzidas com maior impacto, grandiosas, distantes da bondadezinha ou da maldadezinha quotidianas, encontrem tamanha repercussão em nós, seja porque nos inspiram ou nos horrorizam.

O meu reduto é a lógica, a racionalidade. Tento sempre encontrar uma qualquer espécie de justificação, de teoria para tudo. Dei por mim a pensar nos actos de verdadeira maldade que se passam pelo mundo. Não estou a falar dos frutos da maldadezinha, mas daqueles que parecem ter saído de algo imensamente mais grotesco e abominável, que nos chocam por parecer impossível até para o ser humano mais merdoso parir algo de tamanha malevolência.
Se por um lado avanço com a teoria do equilíbrio em todas as coisas: que ao haver no mundo pessoas com uma capacidade extrema para a bondade, haverão obrigatoriamente outras que serão a sua antítese, por outro, nem através da lógica me conformo.

Causa-me um desconforto extremo lembrar-me que todas as acções, independentemente da sua qualidade, possuem a capacidade de inspirar terceiros. Que é assim que a luz e a sombra se multiplicam. Assusta-me que haja quem seja permeável aos maus exemplos, que se reveja nestes, que lhes dê continuidade, que sirva de inspiração para mais uns quantos. Isto num mundo com demasiada gente.

Embora acredite na redenção, também acredito que existem casos perdidos, impossíveis de redimir.
Apanho no facebook o vislumbre de um vídeo que não tive coragem de visualizar, desejando já não ter visto aquele preview, de quem retirou prazer e riso em crucificar e apedrejar um cão. Dizia o texto que do focinho do bicho corriam lágrimas.
Um site noticioso fala do fotógrafo português galardoado pela imortalização da triste realidade dos meninos talibés, forçados a mendigar e a entregar aos professores tudo o que recolhem, sendo inclusive vítimas de agressões e violação.

Estes são somente dois grãos de areia do deserto de maldade que existe hoje, agora, neste mundo.

E eu, que vibrava, e ainda vibro, de orgulho por Portugal ter sido a segunda nação europeia a abolir a pena de morte, não me ocorre outra solução para este mundo doente que não seja a purga destes demónios, da forma mais extrema e definitiva.
Porque para estes não acredito que a redenção seja possível. Pelo menos nesta vida. Então que passem logo para a próxima.





quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

cromices #114: Novidades da frente de batalha contra o medo


Conhecem aqueles momentos em que estamos doentes mas, mal marcamos uma consulta parece que nos começamos a sentir melhor?

Pois acho que isto define precisamente o que se anda a passar comigo acerca do meu medo de cães grandes.

Milagrosamente, a partir do momento em que desabafei aqui convosco e com alguns amigos sobre os meus ataques de pânico, o meu medo e como me sentia, tudo começou a melhorar.
Nada de drástico, mas não dizem que a grandiosidade reside nos detalhes?!

O primeiro passo foi quando, numa ida às compras, apanhei um rapaz a passear um Pit Bull. Embora seja uma das raças com as quais não me sinto à vontade, consigo apreciá-los e aquele era um exemplar lindo, cinza e branco.
Estando sozinha, decidi não desperdiçar a oportunidade. Pensei: "és uma pessoa ou um rato"?!
Abordei o rapaz, elogiei o cão, trocámos dois dedos de conversa, deixei que o bicho me cheirasse sem recuar um único passo e ainda lhe dei uma festa. Quando estiquei a mão para que ele a cheirasse só pensei "seja o que Deus quiser".
Podem achar-me muito mariquinhas, mas considerei-o uma grande vitória, especialmente depois de notar que era um cão sem treino de obediência, porque se fosse treinado o dono dar-lhe-ia os treats à boca ao invés de os atirar ao ar ou para o chão, o que dá a entender de certa forma falta de confiança no próprio animal, falta de treino e de controle sobre este.

Quando nos despedimos ia muito satisfeita comigo própria, mas com a certeza reforçada que continuo a ter mil e um motivos para considerar que o quarteirão da loja de animais é território que nos é interdito. Que sempre que lá for, vou continuar a optar por levar o cão ao colo e dar uma corrida até entrar na loja, que não ando a criar o Kiko com tanto enlevo para acabar como boneco de roer de outro animal.
Que se tivesse o hábito de ir para lá passear muito provavelmente já não tinha cão, pois as pessoas mantém o hábito de deixarem os cães à solta, e estamos a falar de várias raças como Labradores, Pit Bulls, Staffordshire Terriers, Serras da Estrela. Mais precisamente de machos, que como todos independentemente da raça ou porte, demonstram comportamentos territoriais e de dominância numa ou outra ocasião.

O segundo passo foi tornar-me mais assertiva.
Já mando o Jimmy para casa com um tom que ele nem se atreve a desobedecer-me.
Já saí de casa para perseguir o Urso - o cão que já me pregou uns cagaços por se parecer com um lobo, disposta a enfrentá-lo, agarrar o fugitivo pela coleira e levá-lo até à sua casa se fosse preciso. Não foi preciso tanto, mas agora estou nessa disposição: cão que apanhe à solta que eu saiba quem são os donos, vou lá entregá-lo. E mai nada!
Quanto ao cão que nos tentou morder, o marido, que entretanto já se cruzou com ele, diz que a solução é soltar o Kiko. Que o nosso menino mete esse a correr para casa com o turbo ligado.
Duvido que se torne a minha estratégia, mas sinto-me capaz de agarrar no Kiko ao colo, e desatar a correr atrás do meliante. Até lhe ladro e rosno se for preciso.

O terceiro passo é a consolidação do conhecimento sobre o comportamento do meu próprio animal, e sobre quais os cães com que ele pode ou não socializar.

Na lista do "talvez" está o Jake, um cachorro cruzado de Leão da Rodésia, boa onda pela sua tenra idade, mas que pelo seu porte e por transbordar de energia, voa para cima do Kiko e magoa-o, embora sem querer. Por isso prefiro evitar.

A lista do "não" é muito mais extensa. Nela está, por exemplo, o Mondego, pela sua dominância e territorialidade. Já se mostrou agressivo para com o Kiko e é sem dúvida um dos grandes responsáveis pelo facto do meu cão não gostar nem um pouco da maioria dos machos de médio/grande porte, especialmente quando mostram traços de comportamento dominante e agem como bullies.
O Soneca, que embora sendo um cão doce e medricas, e já tenha brincado solto com o Kiko sem qualquer problema, há pouco tempo reagiu negativamente ao nosso cão e este a ele. Demonstra em relação ao Kiko um comportamento intermitente, oscilando entre medo, embora seja muito maior, e umas investidas repentinas. A partir daí passou para a lista do "não".
O podengo Kiko, por ser territorial, desobediente e gostar de provocar os outros cães.
E a lista continua. O ponto negativo é nela haver cães, todos maiores que o meu, que se o apanhassem não duvido que o estraçalhavam. O ponto positivo é que sabê-lo é meio caminho andado para nos conseguirmos proteger.

Na lista do "sim" estão os amigos do Kiko e praticamente 90% das cadelas deste mundo.
Em lugar cimeiro está o Gaiato, o único cão com que eu permito brincadeiras quando sou eu a levá-lo à rua. Confio de tal forma no dono e nos nossos animais, que me sinto totalmente descontraída e posso apreciar a interacção entre os nossos putos, a pura felicidade de ambos mal se vêem, as caudas a abanar, os abracinhos de urso. É claro que também ajuda serem do mesmo tamanho.

Quanto a cadelas "especiais", o destaque neste momento vai para a Anya, uma Pastora Alemã. Precisamente aquela, que por tê-la conhecido a primeira vez, à solta com o dono na rua, passei a fugir deles como o diabo da cruz. A evitar percursos, a passar para o outro lado da rua. Nem sabia que era uma fêmea.
Um dia o marido chega a casa e conta-me tratar-se de uma menina, que andaram ambos soltos a brincar, que se parecem adorar.
E eu que já pude assistir in loco à demonstração desse "amor de paixão", embora a uma distância segura, dela a abanar a cauda, do meu Kiko a uivar pela sua amada, decidi há uns dias não fugir da aproximação. Inclusive depois de pôr o Kiko em casa, levei-lhe um treat especial e dei-lhe um beijo no nariz.



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

cromices #113: Família é...



... também as minhas pessoas, que se apressam em vir ao meu encontro e de sorriso nos lábios, para me salvarem do meu esquecimento, das chaves que ficaram em casa, e do frio.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Do registo onírico #1


Porque talvez seja um exercício interessante registar a memória que trago dos sonhos.

Esta noite foi assim:


Estou sentada em almofadões bordados num azul egípcio, numa divisão que estaria totalmente em penumbra, não fossem os raios de sol que chegam do exterior. Não há portas nem janelas. Apenas colunas e arcos num edifício todo feito de arenito.
Fumo de incenso sobe lentamente pelo ar. A atenção prende-se no jogo de luz e sombra desenhado pelos sol que bate nas colunas.
Muito lentamente levanto-me e caminho, pé ante pé, descalça, até ao grande pátio. É um pátio interior, enorme, totalmente ladeado de colunas. Monocromático. Deserto.
Cada passo dado é quase teatral pela sua morosidade. Sabe bem sentir o chão de pedra morna na planta dos pés.
Sente-se uma leve brisa. Os véus brancos do vestido oscilam gentilmente e destapam os tornozelos. Um cheiro adocicado a calor, temperado com um toque de maresia.
Os braços desnudos. Pulseira douradas, como as dos legionários romanos, cobrem metade do antebraço. Os braços caídos, levemente afastados do corpo. As palmas das mãos abertas, olhos fechados e rosto levantado para o sol. Inspirações longas e ar expirado em suspiros de satisfação. Felicidade. Apenas a passagem de uma ave de rapina quebra o silêncio.




segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

coisas que recomendo: A loção corporal mais indulgente



Sabendo o quanto gosto de cremes, loções e aromas, uma das minhas pessoas ofereceu-me a loção corporal cintilante Mon Jasmin Noir L'Eau Exquise da Bvlgari.

Gostei tanto que é bem capaz de se ter tornado a minha favorita, embora não a use diariamente, precisamente por ser cintilante. Embora o efeito seja até subtil e realmente dê um toque de beleza à pele que me agrada sobremaneira, não casa com o dia-a-dia, pelo menos com o meu. Estão-me a imaginar a passear o cão, a ir às compras e noutras tarefas de dona de casa, em versão cintilante?
Que desperdício de bom creminho!

Mas para momentos mais indulgentes sim, use-se e abuse-se!
Até casa bem comigo, porque como não gosto de me maquilhar, ficando-me somente por um toque de cor nos lábios, a subtileza do toque dourado na pele chega para dar um toque diferente quando se pretende.
Adoro a textura, adoro o toque com que a pele fica e o aroma a jasmim.



coisas que gosto: cheirinho a pão


No caminho para a praia passamos por várias pequenas localidades, uma delas terra de uma afamada padaria, cujo pão é tão, mas tão bom, que o pequeno centro da aldeia não tem espaço para tanto carro, e há sempre fila à porta da mesma.

Como muitas outras padarias também esta fornece a vários locais e é possível, mesmo onde moro, encontrar o seu pão em cafés e mercearias. Mas, não há nada como entrar numa padaria à antiga, das boas, e inspirar o cheirinho a pão que nos rodeia e conforta.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

cromices #112: S.Valentim on the rocks



Aos Domingos temos uma rotina da qual nos custa abdicar, que é ir à praia com o Kiko.
Hoje, mesmo com os anúncios de temporal, não foi excepção. Não estava a chover quando nos metemos no carro, então pensámos que não estaria assim tão mau. Pelo sim, pelo não, também não nos demoraríamos muito. Somente uma voltinha e um café na esplanada - era o plano.

Éramos somente uma mão cheia de resistentes. No areal, só mais um cão. Um Springer Spaniel juvenil que andou em correrias loucas com o Kiko.
O vento fazia voar a espuma do mar.
O ar corria gélido, e a maior parte do tempo andei com a gola da camisola a servir de balaclava, a cobrir ouvidos, boca e nariz.

Quando chegámos ao café, onde éramos os únicos a ousar tomar café na esplanada, riamo-nos a bandeiras despregadas com todo aquele cenário. O Kiko abrigado, por ordem do dono, debaixo da mesa. A sensação de que até o gorro poderia voar da cabeça a qualquer momento, o café mais amargo que o normal porque os grãos de açúcar eram levados pelo vento antes de chegarem à chávena, a tentativa de fumar um cigarro. A noção que seríamos totalmente tolinhos por estar ali naquele momento não tivéssemos uma vista privilegiada sobre o areal, e para um senhor que andava em calções de banho, em passo de corrida com a água pela cintura.
Caso se perguntem, sim, chegou mesmo a mergulhar.

Há algo de fantástico em haver sempre alguém mais louco.

Entre risota, o marido solta um "Feliz dia dos namorados". Nem 10 segundos depois, começa a cair granizo. À séria. Uma saraivada que nos faz chegar ao carro, em corrida, totalmente ensopados.

Não faz mal. Há muita receita memorável que diz "agitar e servir com gelo".




Desejo de ano novo #6: A liberdade de deambular


Adoro dormir. De tal forma, que continua a ser das minhas coisas favoritas de todos os tempos e não acredito que haja, num tempo próximo ou longínquo, qualquer indício de mudança.

Um dos principais motivos porque adoro o sono, talvez até o principal, são os sonhos. O mundo no plano de Orfeu parece-me tão real quanto o deste lado: sonho a cores, com som, e juro que até já houve umas quantas vezes que também tive a impressão de sentir cheiros e impressões tácteis. Sonhar é vivenciar uma aventura, em que o argumento costuma bater aos pontos os da grande tela. O meu ponto de vista move-se como a câmara num filme, ora em grandes planos, ora em close-ups, ora do ponto de vista de uma qualquer personagem.
A experiência é tão real e inequivocamente tangível que, por vezes se torna difícil discernir qual o mundo onírico e o real, não fosse no primeiro possível levantar vôo sem esforço algum e fazer pouco de todas as leis da Física que regem o nosso lado da existência.

Não é por falta de amor à vida deste lado, mas o mundo de lá bate este aos pontos. Sobretudo porque nele a liberdade reina suprema e não existe medo nem consequências de maior. Em comparação, este mundo é uma prisão.

Enquanto sonho posso, embora de forma virtual, vivenciar o meu lado intrépido, explorador e aventureiro. Posso ser uma espécie de Indiana Jones ou Lara Croft e embrenhar-me selva adentro, descobrir zonas ainda inexploradas, dar com o caminho para o El Dorado, viajar ao centro da Terra, sondar o fundo dos oceanos a bordo do Nautilus, chegar à Atlântida, viajar no tempo e espaço...

Acordada sou a perfeita antítese de tudo isto. É o meu lado cauteloso e medricas o regente. Certamente também por uma questão de feitio, mas sobretudo pelo lugar que fizemos do mundo.

Adoraria que vivêssemos num mundo onde as fronteiras estivessem abertas e existisse segurança para sermos livres de deambular por aí, ao sabor da vontade, ao ritmo do improviso. Que pudéssemos pôr uma mochila às costas, e sozinhos ou acompanhados, fossemos viver aventuras, conhecer gentes, hábitos e culturas, explorar cenários, encher os olhos com outras vistas, sem os perigos e os danos que infligimos aos nossos semelhantes.

Acho triste, frustrante e mais uma prova que a estupidez é um dos nossos traços dominantes, que enquanto espécie tenhamos sobrevivido a vários períodos de quase-extinção, a eras glaciares, ao apetite de animais selvagens, à doença e sabe-se lá mais o quê, apenas para nos tornarmos a nossa maior ameaça.




sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Desejo de ano novo #5: Ode ao Ócio ou a necessidade de ressuscitar as noções de Scholé e Licere.


A história da Humanidade está repleta de conquistas, coisas grandes e pequenas, todas elas mais ou menos fundamentais, mais ou menos notadas, que vieram contribuir para a sobrevivência e evolução da nossa espécie.

Se de todos esses milhões de peças que vieram contribuir para o bem estar e desenvolvimento do Homem tivesse que eleger uma lista de dez favoritas, encontraria, sem pestanejar, um lugar de honra para o Ócio.

Há muito para dizer sobre o Ócio, mas começo por afirmar que a sua existência é a derradeira prova da vitória da nossa espécie sobre um manancial de sérias adversidades.

De vez em quando gosto de assistir a um dos muitos programas que existem sobre sobrevivência. Lembro-me de um em particular que me fez pensar como deveria ter sido difícil a vida para os humanos nos primórdios, e do milagre que é a sobrevivência, prosperidade e evolução da nossa espécie. O anfitrião do programa encontrava-se sozinho num qualquer local onde se sabe que existiram tribos há muito tempo atrás. Era um daqueles locais ermos onde a passagem do tempo não implica obrigatoriamente grandes mudanças ao cenário.

Todos os dias ele tinha que fazer uma escolha sobre o que era mais prioritário naquele momento: abrigo, calor, água ou alimento. A maior dificuldade consistia no facto da fonte de água potável se encontrar distante da fonte de alimento, assim como do local mais seguro para a construção de um abrigo, e por fim do local onde se encontrava material combustível para fazer fogo. Qualquer uma das viagens era essencial à sobrevivência, mas difícil tanto pela distância, como pelo dispêndio de energia e a influência do calor, frio e vento castigadores e inclementes.

Portanto, chegar a um estágio da nossa existência em que se vê ser possível dedicar tempo ao Ócio tanto na sua vertente contemplativa como de lazer é o mais claro indício de prosperidade. O momento em que se deixou simplesmente de sobreviver para passar a viver. Para mim, uma das maiores vitórias de todos os tempos.

Sobre o Ócio, diz Schopenhauer:


"O Verdadeiro Ócio


A verdadeira riqueza é apenas a riqueza interior da alma, tudo o resto traz mais problemas do que vantagens (Luciano). Alguém assim rico interiormente de nada precisa do mundo exterior a não ser um presente negativo, a saber, o ócio, para poder cultivar e desenvolver as suas capacidades espirituais e fruir a sua riqueza interior. Portanto, requer propriamente apenas a permissão para ser ele mesmo durante toda a sua vida, a cada dia e a cada hora. Se alguém estiver destinado a imprimir, em toda a raça humana, o traço do seu espírito, haverá para ele apenas uma felicidade e infelicidade, ou seja, a de poder aperfeiçoar as suas disposições e completar as suas obras - ou disso ser impedido. O resto é-lhe insignificante. Sendo assim, vemos os grandes espíritos de todos os tempos atribuírem o valor supremo ao ócio. Pois este vale tanto quanto o homem. A felicidade parece residir no ócio, diz Aristóteles, e Diógenes Laércio relata que Sócrates louva o ócio como a mais bela posse.
Também corresponde a isso o facto de Aristóteles declarar a vida filosófica como a mais feliz. De modo semelhante, diz na Política: "Poder exercer livremente as próprias aptidões, sejam elas quais forem, é a verdadeira felicidade", o que coincide com a sentença de Goethe em Wilhelm Meister Quem nasceu com um talento, para um talento, encontra no mesmo a sua mais bela existência. Todavia, possuir ócio é estranho não só à sorte comum, mas também à natureza comum do homem, pois o seu destino natural é o de empregar o seu tempo com a aquisição do necessário para a sua existência e a da sua família. Ele é um filho da necessidade, não uma inteligência livre. Em conformidade com isso, o ócio logo se torna um fardo para o homem comum, por fim um tormento, se ele não conseguir preenchê-lo com os fins artificiais e fictícios de toda a espécie, mediante o jogo, a distração e passatempos de todo o tipo. Pelos mesmos motivos, o ócio também lhe traz perigo, pois com acerto se diz difícil é a quietude no ócio. Por outro lado, um intelecto que exceda em muito a medida normal também é uma anomalia, portanto, inatural. No entanto, uma vez que existe, o homem que dele dispõe, para poder encontrar a sua felicidade, precisa justamente daquele ócio que, para os outros, ou é inoportuno, ou é pernicioso. Quanto a ele, sem o ócio, será um Pégasus sob o jugo e, portanto, infeliz. Mas se as duas anomalias se encontram, a exterior e a interior, então é um caso de grande felicidade. Pois aquele assim favorecido levará uma vida de tipo superior, a saber, a de quem está eximido das duas fontes opostas do sofrimento humano, a necessidade e o tédio, ou do laborar preocupado pela existência e a incapacidade de suportar o ócio (isto é, a própria existência livre), que são males dos quais o homem escapará apenas quando eles se neutralizarem e se suprimirem reciprocamente."

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'


O Ócio divide-se em duas categorias: o Scholé e o Licere. O primeiro remete-nos aos grandes filósofos atenienses como Aristóteles, ao tempo passado na Ágora em contemplação e debate, exercícios que deram frutos ainda tão significativos na edificação das sociedades e do Homem de hoje. Por isso, Scholé, palavra grega para "lugar de ócio" deu origem ao termo escola.
A noção de Licere, do latim, tal como o nome indica remete-nos ao lazer, à folga e descanso.

Foi no liceu, numa aula de História, a primeira vez que ouvi falar dos filósofos da Antiga Grécia e dos seus lugares de ócio, do quanto este conceito era considerado sublime e essencial. Marcou-me. Quis que existissem máquinas de viajar no tempo para regressar a essa época e lugar. Achei que seria vida para mim. Que o passar do tempo não significa forçosamente evolução e ali estava a prova. A nossa sociedade não vive o Ócio, despreza-o, não o entende, confunde-o com preguiça mesmo quando ainda hoje saboreamos os seus frutos, e isso é um claro sinal de estupidificação e regressão.

Este mundo não é para muitos, inclusive para Pensadores. Ou nos curamos ou este mundo não será para ninguém.
Para mim também não é. Sempre me senti uma tartaruga num mundo lebre. Este ritmo não é o meu. O tempo foge e não há forma de o apanhar.
Voltámos a ser, embora com outras roupagens, o homem primitivo que não tem tempo de viver, pois anda no lufa-lufa da sobrevivência. Mas agora que somos animais com consciência, sabê-lo torna-lo mais difícil.

Urge abrandar o passo do mundo, apostar no slow-living, na calma, dar tempo ao tempo. Há que viver o Ócio, e ao contrário do que se passava na Grécia Antiga, democratizar este conceito, não haver apenas uma elite a poder disfrutar deste à custa de trabalho escravo.

Tal é possível: ao contrário do que nos querem fazer crer não há qualquer necessidade de qualquer um de nós trabalhar 40 horas semanais. Muitos dos empregos existentes são absolutamente insignificantes para a sobrevivência da espécie. Também não há falta de recursos. Estes apenas estão mal distribuídos.
Diminua-se a carga laboral para três dias semanais. Dois dias para a folga, em parte vulgarmente usada para o labor doméstico e familiar. E sobram dois dias em que o mundo se dividiria: um dia para viver o Ócio sem qualquer preocupação material, e o outro para servir as necessidades materiais daqueles que estariam a vivenciar o seu dia de Ócio.

E comecemos todos por vivenciar o Licere, exercício precioso de "dolce far niente" para limpar a mente, copo que transborda de tão cheio com tantos afazeres, compromissos, preocupações e mil pensamentos que nos poluem e tolhem a mente. Com o copo vazio poderemos semear a semente da Scholé, e ver que frutos surgirão.







quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Vida de cão #48: Dar comprimidos.



Uma das inegáveis e mais distintas diferenças entre ter cães e gatos, pelo menos no que toca à minha experiência, refere-se ao momento em que lhes temos que dar algum medicamento.

Com os gatos era um absoluto inferno. De cada vez que os levava, por um qualquer motivo, a uma consulta, rezava cá para os meus botões para que qualquer coisa que eles tivessem que tomar fosse dado mesmo ali, no consultório, e de preferência pelas mãos da veterinária.
Levar qualquer tipo de medicamento para dar em casa ia ser o cabo dos trabalhos, uma aventura que só visto.

O Zeus então era do pior. Aquele sacaninha nem para tomar a pasta de malte para bolas de pêlo, que a maioria adora, dava tréguas. Tinha que colocar uma bolinha desta em cima das patas para que ele sentisse a necessidade de se limpar e a acabasse por ingerir assim.

Mas isso não era nada. Inferno, inferno, mesmo a valer, foi quando lhe foi diagnosticada a trampa da insuficiência renal. Há pouca coisa mais horrível nesta vida que ter um animal doente, em natural sofrimento, que não entende que tem que tomar os medicamentos para se sentir melhor, e ter que prender aquele ser na sua altura mais frágil entre as pernas e segurá-lo pelo cachaço para lhe forçar a medicação goela abaixo, e este num estado totalmente feral e assanhado.

Em comparação, o Kiko é um paz de alma para tomar seja o que for, desde picas a comprimidos.
Por exemplo, para lhe dar o comprimido da desparasitação interna, basta ir com ele à clínica, comprar a coisa, e dar-lha ali mesmo que ele engole em menos de nada e ainda abana a cauda de contente.

Nestes dias ele anda a tomar uma cápsula e parte de um comprimido por dia. O truque, ao contrário do que me contam sobre outros cães, é não o tentar enganar. Ele é demasiado esperto, topa as coisas e fica sentido e desconfiado quando o tentam enganar. Foi algo que aprendemos.
Basta pegar num pedaço de queijo. Mostramos o comprimido numa mão e o queijo noutra. Mostramos que estamos a enrolar o pedacinho de queijo à volta do comprimido e ele engole-o sem qualquer alarido nem dificuldade.





terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

cromices #111: Panfletos vs pulseiras electrónicas



Se costumam seguir o que por aqui partilho já estão carecas de saber que não consigo ficar indiferente à questão das ruas sujas e de cães à solta.

Decidi tornar-me proactiva em relação a essas mesmas questões, de abraçar essas causas com o intuito de aumentar o nível de consciência sobre a importância de todos seguirem um par de princípios e regras na sua vida quotidiana, como "deitar o lixo no lixo", "apanhar os dejectos caninos" e "andar com o cão à trela" ou "andar com o cão solto só sob supervisão do dono e nem em todas as circunstâncias".

Digamos que me sinto, de certa forma, em campanha eleitoral: já perdi a conta ao número de pessoas a quem mostrei o rolinho de sacos que levo sempre no bolso para apanhar as "prendas" do Kiko, numa demonstração de "não custa nada, está a ver?!". Ou ainda dos desgraçados que já tiveram que gramar com as minhas queixas sobre cães à solta e os meus ataques de pânico. Faço-o não porque goste especialmente de partilhar coisas cá da minha vida, mas porque tenho sempre esperança que tal leve ao entendimento que o abuso de uma liberdade pode e é incómoda para terceiros. Que as consequências existem e não são assim tão invisíveis ou abstractas.

Mas ainda está muito longe de chegar. É preciso fazer muito mais.

Ocorreu-me que talvez não fosse má ideia fazer um blogue dedicado a este tema, explicando tim-tim por tim-tim tanto os malefícios e as consequências da ausência de civismo, como o que é correcto fazer e porquê, e como a qualidade de vida pode aumentar exponencialmente para todos com ruas limpas e seguras.

Mas só um blogue não chega, ocorreu-me. Simultaneamente deveria fazer vários panfletos e espalhá-los por vários locais, ruas, lojas e caixas de correio.

Depois há dias, em que penso, que faça o que fizer nada será o suficiente para alcançar o tal objectivo de ruas limpas e seguras. Em que a existir uma verdadeira solução, eficaz, esta haveria de ser algo distópica, como andarmos todos com uma pulseira electrónica que nos desse um choque, tipo taser, de cada vez que se cospe no chão, quando deita lixo por aí, não se pára numa passadeira ou não se apanha os cócós dos patudos.

 Acho que só assim.


cromices #110: A quebrar recordes de velocidade!



Estes últimos dias foram de alguma agitação. Graças a quem? Ao Kiko, obviamente!

O malandro conseguiu comer uma qualquer porcaria na rua, (quatro olhos não chegam para o vigiar!), e como resultado andou um par de dias de diarreia e a vomitar.
Como cereja no topo do bolo, anteontem enquanto dormíamos conseguiu fazer sabe-se lá o quê, que o pôs a mancar de uma das pernas e a queixar-se de dores.
Nada que uma visita à vet ontem, uma pica e uns remédios não resolvam. Hoje já quer andar aos pinotes como se não se tivesse passado nada.

Como resultado ontem fartei-me de caminhar, entre ida à vet, passeios com o cão, idas às compras, e outros afazeres. Digamos que saí de casa pelas 11 horas e não parei até às cinco da tarde.

Logo que saímos da consulta decidi que quanto mais depressa fosse à farmácia aviar a receita melhor. Confesso que ainda parei cinco minutos na paragem de autocarro, mas como não tenho paciência para esperar decidi ir a pé.

E lá fui eu, a pensar, distraída, na lista de afazeres que tinha para o dia. Ainda me cruzei com um conhecido que comentou a minha velocidade, mas não liguei muito. Pensava apenas que quanto mais depressa concluísse aquela tarefa, mais rapidamente poderia passar à próxima coisa da minha lista.
Só quando regressei e tocou a sirene dos bombeiros é que me apercebi das horas, e consequentemente do meu feito: tinha caminhado quase 4 quilómetros, ido à farmácia e ainda parado na tal maravilhosa lojinha dos croissants nuns espectaculares 35 minutos, quando só a ida é coisa para demorar uns 25.

Calhou cruzar-me com o mesmo senhor que ficou simplesmente boquiaberto de me ver de volta tão rapidamente.
Confesso que ainda tive que olhar para as horas um par de vezes para confirmar o meu feito. Acho que isto de ter um cão já começa a dar frutos até na forma física!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Dúvidas que me atormentam #3



Um dos meus rituais matinais é dar uma voltinha pelos blogues da vizinhança. Dei com a opinião do caríssimo Gajo sobre as "nossas" tradições carnavalescas, e não pude deixar de sorrir por encontrar alguém com uma opinião semelhante.

Pelos vistos, o que conhecemos hoje como Carnaval teve origem na Grécia Antiga através de um festival onde se agradecia aos deuses pela abundância e fertilidade.
Quase mil anos depois este costume foi adoptado pela Igreja Católica e inserido no calendário cristão para que acontecesse antes da Quaresma, que é de certa forma uma antítese do Carnaval, visto ser um período de jejum e abstinência, enquanto este é dedicado aos prazeres da carne, uma despedida desta através da via do excesso.

Dizem que foi o Carnaval de Paris que inspirou todas as outras festas carnavalescas, incluindo a brasileira, que acabou por suplantar todas as outras e tornar-se a referência mundial desta celebração.
No entanto, o Carnaval de Paris havia morrido, e só recomeçou a ser celebrado há 13 anos.

Segundo o Guiness não há maior Carnaval no mundo que o brasileiro. Talvez seja esse o factor que leve outros países a importar este modelo, no quais se incluí Portugal.

A dúvida que me atormenta volta a remeter-me ao post do Gajo: se por cá, (sabe-se lá porquê, quando, como e quem), se decidiu adoptar o carnaval brasileiro, porque é que não se soube adaptar este à nossa realidade?

Diz um dos muitos apps de prognósticos meteorológicos que, por exemplo, na terça-feira dia 16, estarão 12º em Lisboa e 25º no Rio de Janeiro, sendo que por aqui é Inverno e no hemisfério sul é Verão.
No Rio até deve saber bem andar com pouca roupa especialmente com tanto exercício que o samba implica, por cá há que tirar o chapéu às sambistas que dão tudo por tudo, que não seria eu a sair à rua naqueles preparos com este frio, e que inevitavelmente passam o desfile a tiritar.

Pois em Veneza é que são espertos!
Diz que terça-feira estarão por lá 11º, num cenário climatérico semelhante ao nosso, e por lá não há maluquinhos de bikini e fio dental. Lá saem totalmente cobertos e agasalhados, e mesmo assim, vai-se lá ver, conseguiram criar um Carnaval que é considerado único e um dos mais belos do mundo.




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Falar de saúde #4: Mudar a cor dos olhos



Quando penso, por exemplo, em cirurgia plástica, dependendo de cada caso a minha opinião pode ser liberal ou conservadora.

Se por um lado acho realmente maravilhoso que existam técnicas que permitam corrigir lesões e deformidades, acho terrivelmente estúpido que existam pessoas dispostas a passar por uma intervenção cirúrgica com a maior das leviandades, esquecendo-se que existem sempre riscos e que se correr mal as consequências podem ser realmente penosas e irreversíveis.

Há dias apanhei por breves momentos durante um zapping, uma referência a uma nova intervenção cirúrgica que permitia mudar a cor dos olhos e, que estava a ter muita procura.

Garanto-vos que classificar esta nova modalidade de estúpida é o maior dos eufemismos!

Fico parva com a quantidade de pessoas dispostas a levar com um laser nos olhos, com o intuito de desgastar a camada de melanina presente, (quanto mais melanina mais escuro o olho), para saírem dali com olhos azuis ou verdes, quando o risco de cegueira é constante e bem real. Mais aqui.

Pessoalmente até acho ofensivo, enquanto míope, astigmática e amblíope, que daria tanto para ter olhos saudáveis, que exista gente disposta a correr o risco de cegar para mudar a cor dos olhos.

Juro-vos, dá-me vontade de correr tudo à chapada, a começar pelas mentes brilhantes que permitiram que tal ideia e tecnologia saísse do papel.

É verdade que gostos são gostos, mas encontrei no Google algumas imagens tipo "antes e depois" e com base na amostra que vi não gostei nada dos resultados.
Enquanto antes todos tinham um olhar único, com diferentes tonalidades de castanho, bonitos, após a intervenção exibem o mesmo tom de azul, sem nuances, pouco natural, tipo zombie, que honestamente não casa bem com todas as feições.






terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

vida de cão #47: o cão chamariz.



Nunca observei tantas aves de rapina como desde que temos o Kiko.

Digamos que um cão pequeno é o perfeito companheiro para um observador de aves, especialmente daquelas que, quando nos olham lá de cima, estão-se nas tintas se aquilo é um cão ou um coelho. Aliás, presumo que na sua perspectiva, se se parece com almoço, então é almoço.

Ainda ontem na praia, tivemos a companhia talvez de uma águia ou bútio, (não sou, de forma alguma, entendida em ornitologia!), que voava em círculos bem por cima de nós.


coisas de ver #62


"As Crónicas de Shannara".