terça-feira, 12 de abril de 2016
coisas de pensar: A estranha no espelho
São raros os momentos em que me olho ao espelho com olhos de ver. O habitual é fazê-lo de uma forma automática. Exercer todos aqueles gestos quotidianos com um nível de observação que quase roça a cegueira.
Sabendo obviamente que a superfície espelhada me devolve o meu reflexo, questionei-me se aquela que ali se apresenta, vendo-se sem vendas pela primeira vez há nem sei quanto tempo, seria realmente eu. Ou melhor dizendo, quão diferente seria qualquer um de nós despidos das marcas de influências externas.
Que rosto, que corpo, que psique, que alma observaríamos se nos conseguíssemos despir de todas as marcas não inatas, de todos os vestígios de maleitas passadas e presentes incluindo dogmas, demagogias, todos os trejeitos, manias e modos que se colaram a nós mas que não são realmente nossos.
Quando presto a mesma rara atenção sobre quem sou, surgem as mesmas dúvidas. No universo de pormenores que supostamente me definem, desde a forma como me movo, como reajo, à forma como falo, penso, escrevo, ajo, do que gosto, do que não gosto, do que temo... Em quantos destes momentos sobressaiu o meu eu real ao invés do produto de um condicionamento?
Tão antiga e tão válida a questão "Quem sou? De onde vim? Para onde vou?".
Talvez o mais significativo legado dos sábios da História seja a própria interrogação. Não há conhecimento sem curiosidade, respostas sem perguntas, nem há demanda como a busca por si próprio.
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