Irritam-me as pessoas que parecem transportar, para onde quer que vão, uma nuvem negra e tempestuosa, carregada de mau tempo, eternamente pairando sobre si.
São as pessoas que mal nos cumprimentam, encurralam-nos com um monólogo interminável e agressivo sobre todos os males da vida, sobre a vida de quem parece só existir males. Frase após frase, vão debitando sobre o emprego, a casa, a família...
(Não confundir com o diálogo natural entre amigos, em que se trocam confidências e conselhos, em que há dias mais e menos alegres que se reflectem nos discursos, fortalecendo os elos que nos ligam.)
E como é longa a lista de queixas sobre os colegas, os superiores hierárquicos, os filhos, a cara metade. Como é insuportável a família até ao 50º grau de parentesco, a tal vizinha, a rotina da vida, o estado da nação, o resultado do futebol, o sabor do café, a parangona do jornal, a conta do supermercado!
E nós, estúpidos reféns da educação, gentileza e até da empatia, a sentirmo-nos invadidos por quem ultrapassou a cortesia de nos questionar sobre o nosso bem estar, antes de tocar o mesmo velho disco riscado. Assaltados por quem nos vem roubar o tempo, a energia - porque as pessoas negativas são exaustivas - por quem nos vem chover em cima, e amargar o sabor do quer que estávamos a beber.
São pessoas tóxicas, que em certa forma e grau demonstram uma disfunção no relacionamento para consigo mesmo e os outros, que se tornaram dependentes da atenção obtida por parte dos interlocutores. São também pessoas conhecidas como Vampiros Emocionais, definição que engloba em si vários tipos de comportamentos, e debatido no campo da Psicologia.
via Outra Medicina |
A única solução está em sabermos como nos defender deste tipo de comportamentos. Vigiarmo-nos para não sermos nós os vampiros. Saber identificar os sintomas e ter a coragem necessária de impôr limites aos comportamentos alheios quandos estes ameaçam o nosso bem estar.
Saber dizer não, sem remorsos nem negatividade, também é uma das grandes lições da vida. Alimentar relações interpessoais saudáveis é um jogo de equilíbrio, de reciprocidade e respeito. Tal nunca significou, nem deve ser confundido, com estar totalmente disponível para o outro, colocando para segundo plano a relação que devemos cultivar connosco.
Com o tempo a lição do "não" tem-me sido cada vez mais fácil de assimilar e reproduzir. Aprendi a ter mais respeito para comigo própria e a colocar-me, muitas vezes, em primeiro lugar na minha lista de prioridades.
O reflexo dessa minha aprendizagem pode ser tão simples quanto o gesto de beber o meu café rapidamente na esplanada e vir-me embora, se aparece alguém cujo claro propósito é impor-me um desses monólogos pessimistas, onde nada se recebe em troca dos nossos ouvidos, da nossa atenção, do nosso tempo, da nossa energia a não ser uma dor de cabeça.
Mais sobre vampirismo emocional, aqui. e aqui.
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