Posso não parecer a melhor pessoa do mundo para dar conselhos sobre saúde oral, até porque pertenço ao grupo de pessoas para quem basta mencionar a palavra dentista para sentir calafrios.
Como toda a gente que não habite debaixo de uma pedra, sei perfeitamente que deveria seguir minuciosamente o conselho de marcar uma consulta de seis em seis meses, e por mais que prometa fazer acabo por nunca cumprir.
Depois de se ganhar a tal fobia é difícil dar a volta à coisa, e para além da minha sensibilidade à dor, as ferramentas do médico dentista apavoram-me mais que agulhas, o que é dizer muito!
Tento compensar com bons cuidados de higiene em casa: escovar após as refeições, e usar um suplemento para maximizar os efeito de limpeza, quer seja elixir ou outro. De momento a minha opção é o Elugel - um gel com elevado poder antisséptico e cicatrizante, à base de clorexidina que é um potente bactericida, que impede a proliferação de microorganismos na boca e como consequência a formação de placa bacteriana, mau hálito e afins.
Se pensarem em experimentar fica apenas o alerta que não é adequado a crianças menores de seis anos, e não deve ser ingerido. De resto é simples: aplica-se uma "ervilha" numa escova suave ou na ponta de um dedo, e aplica-se massajando suavemente os dentes e as gengivas.
A Ordem dos Médicos Dentistas lança anualmente os resultados de um barómetro sobre o saúde oral em Portugal. Fica um excerto da reflexão sobre os resultados referentes a 2018, retirado da página da Ordem:
"Mais de 30% da população revela que nunca vai ao médico dentista ou apenas vai em caso de urgência. É uma subida de 3% face ao ano passado, sendo que 41% dos portugueses não vão a uma consulta de medicina dentária há mais de um ano. São dados do Barómetro Nacional de Saúde Oral elaborado pela consultora independente QSP para a Ordem dos Médicos Dentistas (OMD).
53,6% dos inquiridos afirmam não ter necessidade de ir a consultas de medicina dentária, um valor que subiu face aos 44,5% da edição anterior do Barómetro. 31,7% Diz não ter dinheiro, valor que contrasta com os 42,8% registados no ano passado. Há ainda 11,6% que considera não ter problemas de dentes.
No entanto, 70% de portugueses têm falta de dentes naturais (excetuando os dentes do siso) e, destes, 35% já perdeu seis ou mais dentes. Há ainda 8,2% da população portuguesa que não tem qualquer dente natural. E, entre aqueles que têm falta dentes, há 55,5% que nada tem a substituir.
O Barómetro revela também que 37,4% dos portugueses nunca marcam consulta para check-up. Apenas 29,7% dos inquiridos pelo Barómetro marcam uma consulta por ano e 13,3% marca quando o médico dentista recomenda.
41,6% Dos portugueses não visitam o médico dentista há mais de um ano e analisando as 4 edições do Barómetro está a aumentar o número de utentes que não vai ao médico dentista há mais de 2 anos. 3,6% Confessa que nunca foi a uma consulta de medicina dentária.(…)"
Há tanto ainda por fazer pela saúde oral dos portugueses. E se por um lado isso passa por tornar a medicina dentária cada vez mais presente e acessível a todos, o outro passo fundamental é ensinar desde a mais tenra idade como o nosso organismo funciona, qual a melhor forma de tratar dele, especificamente neste caso, os cuidados de higiene oral a ter em casa e os benefícios da medicina preventiva.
Felizmente nunca tive nada mais grave que uma cárie, e a "pior" intervenção a que já fui sujeita foi a extração dos sisos, mas mesmo assim se pudesse voltar atrás no tempo até à minha meninice, nunca teria saído de casa sem um "kit de higiene oral", um simples estojo com escova, pasta de dentes, fio dental, elixir ou gel, para poder lavar os dentes após as refeições mesmo estando na escola.
O facto das crianças passarem o dia inteiro na escola faz com que esse gesto tenha uma importância fundamental, em conjunto com a venda de alimentos mais saudáveis nas escolas, com mais fruta e vegetais e menos produtos processados e açúcares.
Não custa nada ir ao wc lavar os dentes após a ingestão de alimentos, e a repetição desse gesto diário, ano após ano, é um investimento na saúde cujos benefícios se notarão. Essa é a mensagem que gostaria de fazer chegar aos mais novos.
No caso das crianças creio que ainda muita gente tende a menosprezar a primeira dentição, os chamados dentes de leite. Acho que nunca vou apagar da memória a avó e o mui jovem neto que vimos na sala de espera da clínica dentária, que já tinha os dentes de leite numa lástima. A avó confessava que o miúdo era guloso e que comia açúcar à colher, coisa que se a nós nos fazia benzer, tamanha irresponsabilidade por parte do círculo de adultos daquela criança fazia saltar fagulhas dos olhos da minha dentista.
Os dentes de leite não deixam de ser importantes por serem temporários: são eles que nos acompanham na introdução à alimentação sólida e nos permitem a mastigação e a adequada retenção de nutrientes, que orientam os dentes permanentes para a sua correcta posição no futuro, a sua presença é fundamental para o crescimento correcto das articulações, dos ossos e dos músculos da face, são eles que ajudam ao desenvolvimento da fala. Por tudo isso merecem um tratamento com o máximo rigor.
Portanto, toca a preparar uma pequena necessaire com produtos de higiene oral para todos aí por casa, pequenos e graúdos, para que os dias passados na escola e nos empregos não sirvam de desculpa para descurar os cuidados com os dentes.
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