terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

coisas que gosto: o espírito de aldeia


São os traços próprios de uma vida simples e serena que desenham muitos dos momentos que mais me fazem transbordar o peito de felicidade.

Adoro ir passear com o Kiko após o almoço, subir e descer a avenida do costume, que é coisa que nos leva meia-hora - eu cá aprecio rotinas desde que tenha sido eu a decidi-las.
Nada bate os dias em que olho em redor e verifico que temos o percurso só para nós. Tal permite-me afastar da equação possíveis encontros caninos de terceiro grau, abrandar a pulsação, respirar fundo e simplesmente desfrutar.

Cumprimos esta exacta rotina há mais de quatro anos, todos os dias, com poucas falhas ou nenhumas. Esta assiduidade com o quase rigor de um relógio suíço faz com que praticamente todos os que habitem ou trabalhem ao longo da avenida nos conheçam, o que dá origem a momentos de interação tão salutares que naquele momento acredito que adoro pessoas.

Há conhecidos que passam por nós de carro e apitam e acenam, há condutores de autocarros que por se cruzarem connosco todos os dias nos acenam também, atestado que a partilha de espaço e tempo é chão comum suficiente para germinar uma ligação, há troca de acenos com quem está sentado à varanda ou alpendre, troca de cumprimentos e algumas palavras com quem está a jardinar, um jovem pai que segura o pequeno ao colo para ele ver o "ão-ão", a senhora octogenária que conhecendo a nossa rotina abre a porta à nossa passagem para um dedo de conversa, até senhores das obras em cima de andaimes com quem trocamos "boas tardes", e de vez em quando fala-se deste cordial espírito de aldeia:

"Que bom que é viver numa aldeia!"

"É mesmo, vizinha! É mesmo."


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