sexta-feira, 18 de março de 2016
cromices #120: A integibilidade é um pormenor de somenos importância
Desde há uns tempos para cá, adicionei mais uma rua ao nosso roteiro de passeatas.
Chamo-lhe "a rua da Dee-Dee" porque é nome da cadela com quem o Kiko mantém uma relação muito respeitosa de namoro à moda antiga, ao portão.
A Dee-Dee sente-nos o cheiro, ladra, e lá vamos nós rua acima, quase a correr, para sermos recebidos por uma cauda a abanar.
Até lá, cumprimentamos habitantes das outras casas, humanos, caninos e felinos, que já nos conhecem e sabem que vamos a caminho de mais um sessão de "namoro".
Num dos pátios, ocupada com as verduras do quintal, costuma estar uma senhora já de idade bem avançada. E eu, que não tenho feitio para me fingir cega e avançar muda depois de ver e ser vista, lanço-lhe um sorriso e um cumprimento. A senhora retribui no mesmo peso e medida. Acontece que não percebo uma única palavra do que a senhora diz. Aceno, meneio a cabeça em tom de concordância, lanço umas interjeições e despeço-me cordialmente.
Ontem a cena repetiu-se. No meio de um discurso sibilado que não consigo descortinar fui capaz de apanhar algo que me soou a "Kikinho". Aí fez-se luz. É que eu falo com o Kiko em voz alta, e estando o pátio da senhora num nível mais baixo que a rua, presumi que se sentisse curiosa sobre quem raios seria o tal de "Kikinho" que ali passa todos os dias. Agarrei no cão ao colo para que ela o visse.
Soltou uns "oooohhh" por entre o desenho de um sorriso. Sorrio de volta, "Até mais logo, minha senhora!"
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